Dizer não ao seu filho é um passo crucial na educação da vontade e formação de valores. Essa prática faz parte da experiência humana e é essencial para o desenvolvimento saudável da criança. Mas como e por que dizer “não”?
A importância do “não” na educação
A Declaração Gravissimum Educationis – Sobre a Educação Cristã, do Concílio Vaticano II, destaca que a missão de educar, levando os filhos ao discernimento do que se pode e não se pode fazer, é um “grave dever” da família.
"A família é, pois, a primeira escola das virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade." (GE, 3)
Criar e educar um filho é uma dádiva. No entanto, por mais desafiador que seja, essa jornada tende a ser uma experiência de encantamento e coragem. Encantamento pela constante descoberta e coragem porque, muitas vezes, significa um encontro consigo mesmo.
Por isso, pais, mães e educadores que conduzem uma criança ao caminho da maturidade frequentemente crescem no autoconhecimento.
Motivos para dizer não aos filhos
Nenhum pai ou mãe em sã consciência diz “não” apenas pelo prazer de ver o filho sofrer. A necessidade do “não” é natural e muito importante para o desenvolvimento das crianças.
1. Os limites tornam as crianças mais seguras
Nas esferas emocional, afetiva e física, estabelecer limites torna as crianças mais seguras. Desde recém-nascidos, mudanças constantes de rotina podem gerar comportamentos diferentes e até negativos. A palavra “rotina” deve ser a primeira noção de limites apresentada às crianças.
Prever o que vai acontecer, especialmente em hábitos básicos como alimentação, higiene e sono, torna as crianças mais receptivas às orientações dos pais e cuidadores.
2. Marcos do desenvolvimento humano
De 0 a 4 anos, a repetição de comandos, sem muitas explicações e “sermões”, pode ser muito útil. É como se formássemos um código de conduta e comportamento, sustentado pelo afeto, o contato físico, a firmeza e a ternura. É nessa fase que a criança constrói os principais vínculos de confiança e amor que ela levará para o resto da vida.
A partir dessa fase, ou um pouco antes, já se pode conversar mais, explicar mais, até porque a própria criança já demanda os porquês de tudo.
3. A idade da razão
Algumas linhas de pesquisa afirmam que a “idade da razão” surge por volta dos 7 anos, coincidindo com a formação quase completa do cérebro humano, finalizada aos 8 anos. Mas isso não significa que não se deve dizer “não” antes dessa idade. Desde cedo, é possível estabelecer limites progressivos nos hábitos básicos e na conduta social.
É nessa etapa que podemos explorar a experiência da caridade, da partilha e do senso de dignidade. Portanto, é quando podemos ensinar a criança a dizer não também, pois ela precisa aprender o que é privado, íntimo, a “não falar com estranhos” nem aceitar comportamentos abusivos.
Na “idade da razão”, já se pode perceber mudanças significativas nas vontades, preferências e escolhas das crianças. Por isso, é muito importante que pais e educadores acompanhem de perto essa fase, que é um marco do desenvolvimento humano. Por volta dos 9 anos, a criança começa a compreender metáforas e linguagem subjetiva, as “lições de moral” a partir de um contextos.
4. Formação do caráter
Saber dessas particularidades no desenvolvimento não deve reprimir nossa postura na educação moral e transmissão de valores. Muito pelo contrário, deve iluminar a forma como pretendemos educar as crianças. Então, vale a pena estar atento.
“A família ajuda a que as pessoas desenvolvam alguns valores fundamentais que são imprescindíveis para formar cidadãos livres, honestos e responsáveis, por exemplo, a verdade, a justiça, a solidariedade, a ajuda ao necessitado, o amor aos outros por si mesmos, a tolerância etc.” (Catequeses preparatórias para o IV Encontro Mundial das Famílias)
Apoie-se na graça de Deus
As tragédias atuais, as guerras e ideologias deixam muitos pais assustados, minando sua autoconfiança e fé na missão de educar. Porém, mais importante do que se apoiar em informações externas, é acolher com serenidade e humildade a graça de Deus, que dá a força necessária diariamente para o exercício da missão de educar.
Assim, torna-se fundamental investir na vida espiritual em casa, rezar pelos filhos e com eles, e confiar nas inspirações divinas. Encontre meios criativos para conviver, conhecer e brincar com suas crianças. Portanto, não se deixe abalar pelas dificuldades.
“Fiel é aquele que vos chama, e o cumprirá” (I Tes 5,24)
Com essas práticas e a orientação espiritual, dizer “não” ao seu filho se torna um ato de amor e cuidado, essencial para o desenvolvimento de um caráter forte e saudável.